O texto escrito é minha paixão, mas devo reconhecer seu risco.
Quando escrevemos, não temos controle sobre como o leitor o receberá.
Pode ser que me veja como brava, quando estou apenas pensativa. É
provável que me leia crítica, quando a intenção é plenamente amigável.
Mas escolhi este meio, este canal e sabia dos ossos deste ofício. Não, não me ofendi. Nem me conhecem de fato.
Já faz algum tempo que desisti de pregar, no sentido de convencer
alguém da minha opinião. Apenas vivo o que creio, pregando sem falar.
Se elas se convencem, adotam algumas coisas, rejeitando o que não lhes
convém. Normal. Faz parte do nosso desenvolvimento como ser humano
crescer, podar, frutificar. Alguns só arrancando pela raiz mesmo.
Como disse, falei de cinema e queria dizer porque não vou ao cinema.
Fique tranquilo, não quero te convencer de nada, te condenar menos
ainda. Não me cabe este papel. Apenas quero te contar o meu ponto de
vista e devo começar dizendo que quase não vejo filmes. Já gostei mais,
já assisti a vários – alguns dos quais me arrependo, aliás. O problema
todo pra eu me comportar assim é que faz alguns anos descobri que nossa
mente é um depósito que não rejeita nada. Tudo o que vemos e ouvimos
fica lá. Às vezes em gavetinhas que parecem lacradas e esquecidas, mas
que podem vir à tona nos momentos mais inoportunos.
O que vejo, leio, escuto me abastece para decisões que tomo, para
emoções que alimento. Outro dia um colega de trabalho me questionou
sobre esta postura, já que, segundo ele, eu perco muitas “referências”
artísticas por não ir ao cinema e nem assistir aos filmes a moda. Sei
disso, mas pesando na balança e levando em conta meu objetivo na vida,
temos que concordar que existem muitas outras “referências” e sem
parecer careta, acho que Deus, a própria originalidade de tudo, é uma
boa fonte de inspiração. Aquela cena de assassinato que verei num filme,
vai alimentar minha alma, o adultério vai me influenciar eu querendo ou
não. As doutrinas espíritas ficarão lá, esperando para subir ao
consciente e por aí vai. Não quero isto pra mim. Já tem tanto lixo que
recebo sem poder apartar, pra que vou me expor a este outro tanto se
está em meu poder rejeitar?
Eu poderia discorrer sobre nossa capacidade neurológica de absorção e
reação, da diferença entre mídia recebida e percebida, o poder de
influência num ambiente fechado, com uma tela enorme, dos 24 quadros por
segundo a inversão de frames, do achaque comercial perpetrado pela
tecnologia IMax, mas não vou. Não vou por um único motivo: não quero te
convencer de nada, pois se discorda de mim, ainda mais se gosta muito de
filmes e de cinema, ainda que eu trouxesse o inventor das super telas
para dar seu depoimento de como ele criou um mecanismo que nosso cérebro
não consegue repelir, de como engolimos tudo aquilo sem pestanejar –
mesmo arrotando ter controle sobre tudo -, ainda assim você não me
acreditaria. Não vou usar argumentos da escritora Ellen White, nem
falar dos significados de cinema e teatro elétrico, informando a
coerência dela sobre uma tecnologia que conhecia e que já no seu tempo
se mostrava de grande perigo para a mente. Nada disso. Simplesmente pelo
fato de que não te convenceria.
Posso parecer retrógrada pra você, tudo bem, já ganhei nomenclaturas
piores. Mas não acho mesmo que deva perder duas horas ou mais da minha
vida por semana, por dia ou seja lá que período, para me expor a isto.
Se tem filme que preste? Claro que tem, não sou ignorante. Já vi muitos
inclusive. Mas também tem aqueles com 5% de conteúdo edificante diluídos
em 95% de ações e pensamentos que se chocam contra meus princípios e de
tanto bater, uma hora os derruba. E se você é tão humano quanto eu,
querido leitor, também está passível disto.
Veja, não estou aqui escrevendo sob demanda de igreja, estou falando
da minha filosofia e prática de vida. Se você é frequentador de cinema e
adora ver filmes, sozinho ou com a família, não te considero pior nem
melhor que eu. Apenas temos opiniões diferentes sobre o assunto. Apenas
queria te contar minhas razões, pois elas podem te fazer algum sentido
também.
by Fabiana Bertotti